Mifu… no Morum…

Ladeira no Morumbi. Imagem: Google Street View.
Ladeira no Morumbi. Imagem: Google Street View.
Eu adoraria estar falando de futebol, mas não. Tô falando daqueles dias que a gente resolve ir ao Morumbi de bicicleta. Sim, porque desde 2011 tudo é um pretexto pra andar de bike, né?
Eis que decido ir ao Morumbi comprar um presente pro meu sobrinho que nasceu. No Morumbi? Aquele bairro que não passa gente, que você só vê muros e guaritas e de vez em quando encontra alguém perdido como vc? Lá mesmo. É que minha amiga Flávia mora lá e vende roupas de criança pela internet. Há anos eu só compro coisas de amigos. Esse ano me lembro de ter comprado umas artes do Siqueira e um lençol da Ju, que pintou bicicletinhas pra mim. :)  Raramente vc vai me ver num shopping ou numa loja ” procurando” um produto. A não ser que seja uma loja x, de preferência num bairro bem distante, que me faça pedalar um bocado.
Mas escolhi o domingo por ser aquele dia ” calmo” pra ir pra lá, certo? Errado. A Engenheiro Oscar Americano parece uma pista de corrida. As calçadas, bom, que calçadas? Quando percebi que não encontrei nenhum ciclista pelo caminho, notei que tinha errado a rota. Mas tudo bem, afinal quem tá na chuva… né?
Mas o erro mesmo foi a hora que eu decidi não descer a Giovanni Gronchi porque eu lembrava que depois deveria subir. Continuei pela Av. Morumbi por um tempo e na hora que eu não aguentava mais carro cafungando atrás de mim, resolvi cometer o segundo erro: ir por dentro. Por dentro vc anda pelo Brooklin, pela Vila Madalena, mas não pelo Morumbi, né? Vi um guardinha no meio da descida e decidi que era ele que ia me guiar. Aplicativos? Não. Fui a moda antiga. Esqueci o celular, por isso tb a ausência de fotos… :(
Fiz o caminho que ele me explicou e cheguei numa encruzilhada. De um lado um matagal. Do outro, uma linda CICLOVIA. <3. Não tive outra escolha a não ser pegar a ciclolinda. No final dela, uma ladeira. Daquelas que você empina a bicicleta.
Minha bike de 6 marches que me acompanhou hoje no Morumbi.
Minha bike de 6 marchas que me acompanhou hoje no Morumbi.
Um detalhe importante: eu não tava com a minha Easy Rider, de 18 marchas ( ou seria 21?), eu tava com uma urbaninha de 6. Daquelas que parece desenho animado, sabe? Vc pedala, pedala, pedala na sexta marcha e não sai do lugar. Ou engata aquela primeira e empina. Mas eu sabia que ia aparecer um bike anjo pra me salvar. Apareceu. Vi um ciclista vindo na minha direção e coloquei a mão pra cima em sinal de “PARE POR FAVOR”, com a esperança de que ele me indicasse um caminho alternativo. Mas não: o caminho era esse mesmo. Ele não só parou como me acompanhou ( empurrando a bike) na ladeira. ” Pode ir pedalando” – eu disse – tô vendo ai pela sua coxa que vc tá acostumado com subidas”. Ha! Mas ele foi gentil e seguiu empurrando comigo. ” Nossa, nem a pé dá pra subir isso aqui”. Rs.
No meio da ladeira ele me disse que era a ladeira da morte. Oi? Por que ela mata ciclistas do coração? Não, porque tem muito assalto aqui. Roubam o que? Bike? Moto? Roubam tudo: bike, moto, carro, bolsa, celular, o que tiver. Nesse momento passamos por uma base comunitária da polícia. Não que eu me sentisse mais segura, segura eu tava mesmo pela companhia do meu bike anjo, o Luiz :)
Pronto, nos despedimos no final da ladeira da morte e eu tinha sobrevivido! Depois de pedalar um pouco na Giovanni cheguei na casa da Flávia. Meia hora de papo e beijo, tchau, como saio daqui? Quer subir ou descer? Descer, claro. Então desce ate a ponte João Dias. Foi o que eu fiz. Ponte João Dias, aí vou eu! Cruzei a ponte. O moço do posto de gasolina me explicou direitinho e me disse pra eu pegar a Nações Unidas, e não a Marginal. Obedeci, claro. Ali eu só via placas: Campo Limpo e Itapecerica. Mas pela paisagem percebi que estava na direção certa. As placas eram para carros e depois indicavam o retorno.
Depois de pedalar naquela calçada incrível (sqn) da Nações Unidas, entrei numa rua que achei interessante. E era mesmo porque depois de um quarteirão tinha uma ciclovia. Mas não entrei nela porque tinha também um ” Amor aos pedaços” com um poste lindo na frente, chamando minha bicicleta para descansar ali. Resolvi tomar um café. E achei que eu era merecedora de um bolo de mousse também. Aquela frase da nutricionista: ” você tem que perder  (peso), não empatar” parecia cada vez mais longe quando aquele bolo apareceu na minha frente. Pedi um cisco de bolo. Comi como se fosse um bolo inteiro. E eu ainda tava na metade do caminho.
E de repente, caí na rua Alexandre Dumas, numa ciclovia. Que continuava na rua Fernandes Moreira. Acho que foi a que deu rolo com os comerciantes e tal, teve reunião na CET mas pra minha sorte ela continuava lá firme e forte. E sem poças de água, como eles tinham falado. Eis que tinha ainda mais uma subida pra chegar na Santo Amaro. Outra? Eu só subi, subi, subi… quando vou descer? Sim. Escher was there.
Cruzei o Borba Gato e uns km depois, avistei a ponte Estaiada AND a ciclofaixa de lazer, por onde vim o resto do trajeto. Ali tá meio zoado com as obras do monotrilho, acabei pegando a ciclofaixa pela contramão. Um senhor de bicicleta me alertou que eu estava na contramão. Era só o que me faltava. Só eu e ele ali, numa pista larga pra caramba, depois de tudo o que eu tinha passado ouvir ” você está na contramão na ciclofaixa de lazer”?
Percorri a Berrini inteira. Na mão correta. Uma pista pra bikes, outra pra carros e um canteiro gigante de obras para o corredor de ônibus e ciclovia. Vai ficar lindo lá.
Quatro horas depois, cheguei em casa feliz da vida. Lembrei de um senhor que me perguntou a semana passada perto de casa se era eu que estava no Alto da Lapa, porque ele tinha ficado encafifado e tava na dúvida se eu iria até lá de bicicleta. Pensei nele na hora: se ele me visse hoje ali na ladeira da morte, iria ficar perplexo.
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