sábado, 8 de março de 2014

Mulheres que pedalam ! Entrevista com Teresa D'Aprile no Dia Internacional da mulher 2014


BIKE PEDAL & CIA.
Teresa D'Aprile - Bike Pedal e Cia

Entrevista com Teresa D’Aprile | Especial Dia da Mulher no Bike Pedal e Cia

8 mar 2014
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Gerente da loja especializada em bicicleta Good Bike e criadora do grupo de ciclismo Saia na Noite, Teresa D’Aprile vem, há 22 anos e através deste grupo, apoiando mulheres que já sabem ou que pretendem começar a pedalar. “Em 1992 resolvi formar um grupo de mulheres ciclistas, o Saia na Noite, que coordeno desde então para ajudar as mulheres a entrar neste mundo maravilhoso”, explica.
Aos 65 anos, Teresa diz que não vai pedalar sem seu batom, lápis nos olhos e uma florzinha na bike. Mas a feminilidade não a fragiliza: Teresa completou uma prova de MTB aos 42 anos e explica: “fui até o fim e entendi que a gente faz o que quiser, não importa o tempo e a idade”. E sobre a relação com a bike é convicta: “hoje, com 65 anos, amo o que faço, ainda uso a bike como meio de transporte. Só posso dizer: “a bicicleta é a minha vida”! Enquanto as pernas aguentarem estarei  pedalando”, garante.
Teresa D’Aprile é uma das entrevistadas do Mulheres que pedalam | Especial Dia da Mulher no Bike Pedal e Cia. Confira a entrevista:
Teresa D'Aprile - Bike Pedal e Cia 2
Esporte, saúde, lazer, mobilidade, economia, sustentabilidade: o ciclismo possui um grande leque de motivações que levam uma pessoa a iniciar a pedalar. No seu caso, qual foi essa motivação principal que te conduziu à bicicleta e que ano isso ocorreu?
Me separei com 37 anos, em 1985, e comprei uma bicicleta – até hoje não sei qual a razão – e nunca mais parei. Após cinco anos conheci um ciclista, com quem até hoje mantenho um relacionamento. Ele me treinou e eu já fui trabalhar em loja de bicicletas, na época com 42 [anos]. Senti um certo preconceito pela idade: todos achavam estranho eu usar [a bicicleta] como modo de transporte e trabalhar em loja [gerenciando a Good Bike na Av. Cidade Jardim].

Frequentemente as mulheres são alvo de piadinhas ou de uma diferença no trato em relação aos homens quando estão dirigindo. E no ciclismo? Você sente algum tipo de exposição ou diferenciação quando pedala?  Como você percebe a postura e o trato dos homens ciclistas em relação às mulheres?
Hoje mudou muito, mas anos atrás havia um certo preconceito.

Como era esse preconceito?
Quanto ao preconceito, para mim, foi a idade. Como disse, hoje mudou muito: tem muitas mulheres mais velhas pedalando. Mas eu digo que hoje, com 65 anos, as pessoas se assustam um pouco quando olham para cara de uma velhinha de bike.

Para você, o que significa ser uma mulher ciclista?
Ter liberdade! Viver! Conhecer novos desafios e a cidade com outros olhos.

Socialmente existe um privilégio da mulher em relação ao homem em, por exemplo, situações que envolvam gestos de cavalheirismo, mas, por outro lado, uma exposição maior a riscos de violência doméstica especificamente por sua condição de mulher, ou ainda estupros ou, profissionalmente, diferença salarial exercendo a mesma função. Mas e nos momentos em que está na bike? Você sente que há algo que favorece ou desfavorece as mulheres em relação aos homens ciclistas?
Não, somos todos iguais.

Teresa, e por que o “Saia na Noite”? Por que você se juntou à Élia, à Nilva, à Silvia e à Vera e vocês cinco decidiram criar um grupo de ciclismo totalmente focado nas mulheres?
Minhas amigas queriam pedalar, como eu, mas tinham vergonha. Em 1992 resolvi juntar as meninas para sair à noite, assim ninguém via a cara delas e perdiam a vergonha. Sendo assim, criei o Saia.

O dia a dia ou rotina de uma mulher é mais ou menos complicado quando unido ao ciclismo? Você acha que há mais desafios para a mulher que pedala ou a mulher só tem a ganhar quando pratica o ciclismo?
Tem muitos desafios, mas só tem a ganhar.

Você sente que o ciclismo, de alguma forma, contribui física ou psicologicamente para você exercer sua condição de mulher? Se sim, em quais aspectos?
Muitos. Fisicamente, hoje, com 65 anos, não tenho nada: mantenho meu peso igual por mais de 20 anos e a cabeça é mais jovem.

E o contrário, ser mulher contribui para a sua condição de ciclista?
Sim, com certeza. Ser mulher ajuda ser ciclista sim me ajuda a pedalar e muito. Não saio para pedalar sem meu batom, risco nos olhos e sempre uma florzinha na bike! Sempre um sorriso no transito, e por favor [outros condutores] te ajudam muito. Às vezes até os motoboys fecham a rua para você passar.
Teresa D'Aprile - Bike Pedal e Cia
Há alguma história pessoal que você tenha vivenciado a partir do ciclismo e que afetou a maneira que você conduz sua vida?
Minha primeira competição [de MTB, onde garantiu um troféu por completar a prova]. Todos me olhavam por ser mais velha, com 42, mas fui até o fim e entendi que a gente faz o que quiser não importa o tempo e a idade.
(Teresa nos enviou um texto, após a entrevista, onde descreve o episódio desta forma: “Na época já tinha 42 anos, quando entrei para o mundo ciclístico e senti na pele como foi difícil por ter idade mais avançada e ser  mulher, mas não desisti. Era muito insegura, decidi então fazer uma prova de MTB. Na hora da largada queria fugir, mas lá fui eu: reclamando e pensando “o que estou fazendo aqui?” Demorei quase quatro horas para chegar, não tinha ideia do que era uma corrida na terra e, quando o carro de apoio queria me levar, pensei e disse: “não, irei até o fim, custe o que custar”. Quando cheguei exausta, e até recebi um troféu, foi o dia mais feliz da minha vida!  Não parava de sorrir e fiz festa para mim mesma. (…) Isto me fez sentir muito mais segura e acreditar em mim mesma não só na bicicleta, mas na vida”.)

Você acha que as mulheres que não pedalam deveriam considerar inserir o uso da bike em suas vidas? Em caso afirmativo, por quê? Como você acha que a bicicleta poderia beneficiá-las?
Como já disse, tenha você 20 ou 60 anos somos todas ciclistas. Conhecer pessoas, fazer uma turminha não só para pedalar, mas sair: nós nos divertimos muito no Saia e hoje coordeno o grupo, este ano entrando nos 22 [anos desde sua fundação].Não é fácil, mas enquanto aguentar vou ajudar mais e mais mulheres .

Que conselhos você daria a uma mulher que não pedala, mas que deseja começar a pedalar? Você recomendaria a esta mulher buscar apoio de algum grupo exclusivamente feminino como o Saia na Noite? E, se sim, por quais motivos você pensa que os grupos femininos podem ajudá-la?
Quem quer começar a pedalar digo que o apoio do Saia é: Temos mais paciência que os homens. Você pode errar quantas vezes quiser, ninguém vai criticar. Se não conseguir subir pelas primeiras vezes uma ladeira, vamos junto com você até onde aguentar e, se necessário, empurramos a bike junto. Quando conseguir subir vamos bater palmas e vai ser uma festa! Dá para entender? Conselho: a gente faz o que quiser, é só querer. Não importa o tempo e a idade, não deixe de viver!
*Imagens: Arquivo Pessoal/ Teresa D’Aprile

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