Tudo começa assim... você se inscreve num grupo de bike, curte, relaxa e goza. Depois alguém te chama para conhecer outro grupo, você vai , adora e de repente fica viciada. Daí vai pulando de galho em galho. Claro, que o primeiro a gente nunca esquece – e nunca abandona.
Mundo biker
De repente você começa a vasculhar na Internet tudo que existe de bom neste mundo biker e descobre coisas incríveis como o que acabo de descobrir e recomendo, a En Selle Marcel, na capital francesa, país louco por bicicleta, vide o Tours de France.
Bike dobrável Brompton
Quando dei de cara com aquela bicicleta portátil da marca Brompton dentro da mala não parei de sonhar – tudo que um ser humano almejaria possuir. Já pensou? Você dobra, fecha e vai embora, seja no avião, no carro, no metrô ou até mesmo a pé. Que deleite....
Histoire de Voir
Não esquecer os óculos com tira de couro feita a mão da marca francesa Histoire de Voir. Me senti no reino da Hermès sentada num side car.
Bom gosto e bikes vintage
Enfim, acho melhor não contar mais nada senão perde toda a graça. Descubram também entrando no site desse paraíso parisiense das bikes. Bom gosto ali é o que não falta e o design vai dos modelos de bike Vintage dos anos 50 aos 80, chegando aos capacetes, chaveirinhos e bombas. Um luxo.
Como virei biker
Me separei, e daí? Super normal nos dias de hoje, mas não para mim, depoisde uma maravilhosa união que durou 38 anos com filhos, sogra querida, cães e gatos, foi difícil. Fazer o que... Mudei do Morumbi para os Jardins, mesma praia se não fosse uma favela no meio do trajeto, mas enfim cá estou eu, instalada, adaptada e mal criada. Reconheço que foi uma mudança radical, mas para quem herdou a paixão pelas caminhadas (papai), me sinto em terra firme e meu dia a dia é mesmo a pé. Descobri o ônibus, o metrô e isso que não estou em Paris muito menos em NY.
Luzinhas na Faria Lima
Certa noite voltando de um sessão de cinema, vi umas luzinhas que ofuscavam em plena Faria Lima vindo na minha direção. Fiquei como que petrificada e pensei – será um disco voador aterrissando em terras de Tio Sam tupiniquim? Qual não foi a minha surpresa ao perceber que era umgrupo de bicicletas piscando suas lanterninhas noite a dentro. Voltei para casa fascinada e só pensava – quero isso para mim. Uma percepção nos dias de hoje um tanto quanto naïf, mas claro eu vinha direto do Morumbi para os Jardins, era totalmente leiga no assunto ou índio.
Coincidência
Visitando minha mãe, comento a cena que ficou gravada na minha memória. Na mesma hora, ela me dá um encarte do jornal e diz: "olha só a coincidência, acabo de ler e, aqui, tem uma lista dos grupos de bicicleta por São Paulo". Meu Deus... Minha mãe de 86, mais informada que eu, quem diria...
Qual é o meu perfil?
Voltando para casa não resisti, vasculhei o encarte em busca de algum grupo que se encaixasse com o meu perfil - detalhe: como verão em todas as minhas crônicas, ainda não descobri o meu perfil, acho que danço conforme a música - aliás agora estou escutando os Beatles, ou melhor Jazz and Beatles, mas é totalmente válido.
Ofner João Cachoeira
Este sim, este não, e eis que Eureka – grupo de mulheres saindo da Ofner João Cachoeira. Adorei. Mulheres são mais light para pedalar, além do mais fica ao lado da Amauri . Vivaaaa, é lá mesmo que eu vou. Me inscrevi no grupo pela internet. Volto à casa do Morumbi para resgatar alguma bike, talvez um capacete, compro as famosas lanterninhas e lá voueu – se o tema é brilhar, vou botar pra quebrar.
Inscrição na Internet
Me apresento pontualmente no local de encontro, pra lá de tímida sem conhecer ninguém. Nem bem me acerquei, uma delas foi logo falando, você é a Maria Lucia que se inscreveu pela internet? Fui acolhida de braços abertos. Nem bem começamos o pedal outra se acercou e disse:
- "Qual o seu nome?"
- "Maria Lucia. Ah tá bom, mas olha aqui Malu, o seu capacete está do lado contrário". Cinco minutos mais a frente me ensinaram a trocar as marchas, um vexame total.
Batismo espiritual
Considerei aquilo um batismo espiritual. Eu, que durante 57 anos fui chamada de Lu agora era Malu. Eu, aquela matraca dos velhos tempos, agora, era tímida e recatada. Assim fui durante um ano. Pedalava em estado de êxtase pela cidade.
São Paulo by night
Centro de SP à noite, meia luz é maravilhoso. Andar pelo Minhocão é o verdadeiro mundo cão. Jardins é silencioso e inala aromas de Dama da noite. Para os lados de Alto de Pinheiros é como "volver a vivir" - minha infância. Para os lados da Lapa, assim como Granja Julieta, o friozinho se sente e se respira verde. Ou seja,cada canto tem sua peculiaridade, seu charme, sua história e emoção.
PP: prazer de pedalar
Mas o melhor de tudo isso é que aos poucos fui me aproximando do grupo e percebendo que ali não tem status, não tem diferença de cor, diferença de raça e nem o quem é quem. Somos toda iguais perante a Bike, todos por uma só causa, o PP: prazer de pedalar.
Tia Teresa
Sou muita grata, principalmente à chefa Tia Teresa, que acolhe a todas por igual nesse grupo pioneiro de 20 anos e te digo que lá encontrei grandes amigas que, sem querer ser trágica, me salvaram a vida. Digo isso porque não foi fácil fazer novas amizades aos 57 anos, saindo do nada e conseguir dar a volta por cima. Gracias, Tia Teresa!
Superação
As fotos confirmam que bike pode ser transporte, diversão, emoção e até superação. Mas consegui, as luzes no fim do túnel brilharam para mim. Sou grata a estegrupo de mulheres maravilhosas,charmosas, glamorosas, comandadas por uma mulher mais incrível ainda, que me salvaram do poço e me deram esta oportunidade de crescer, florescer e acontecer.
Recomendo a todas. É tudo de bom!
Grupo de ciclistas mulheres "Saia na Noite", em São Paulo:
www.saiananoite.com.br
Site da En Selle Marcel de Paris:
www.ensellemarcel.com
