domingo, 9 de fevereiro de 2014

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Reprodução / Cartaz do evento Cartaz do evento
Mobilidade urbana

Quatro dias de debate sobre duas rodas

Fórum Internacional da Bicicleta fará de Curitiba a capital do cicloativismo, com discussões sobre urbanismo, saúde e convivência
Publicado em 09/02/2014 |


André Rodrigues/Gazeta do Povo
André Rodrigues/Gazeta do Povo / A suíça Mona Caron fará intervenções artísticas durante o fórum, como esta iniciada num prédio da Rua São FranciscoAmpliar imagem
A suíça Mona Caron fará intervenções artísticas durante o fórum, como esta iniciada num prédio da Rua São Francisco
Entrevista
Pôr a bicicleta em discussão é discutir a cidade
Arturo Alcorta entende que a bicicleta está sendo usada por interesses políticos e por interesses econômicos sem nenhum efeito prático. E quem está ligado a essas questões está cada vez mais consciente de que a luta tem que ser muito além da política. Confira a entrevista.
Qual a importância de um fórum como este?
Uma das principais razões para esse país não estar funcionando direito é falta de troca de informação de qualidade entre pessoas das diferentes regiões do país. A questão da bicicleta, com a força que ela tem hoje em dia, é muito nova. A quantidade de ciclistas que o Brasil tem é absurda, quem fala por baixo fala em 40 milhões. E o número de pessoas lutando pela questão da bicicleta é muito mais alto do que era num passado recente, mas ainda não é o ideal. Mas a qualidade desses ativistas tem crescido muito em cima de troca de informações, como acontece nesses congressos, em que eles podem travar contato com o pessoal que está trazendo bons resultados. É ótimo pra eles.
Por que a bicicleta?
Quando você põe a bicicleta na pauta das cidades, você põe diretamente também a discussão da situação da cidade. O ciclista passa pelos lugares e vê como está o meio ambiente, como estão os estabelecimentos comerciais, ele para no bar e conversa com as pessoas... o ciclista tem uma visão mais ampla e tem essa visão numa velocidade humana, coisa que não acontece com o automóvel. Colocar a bicicleta na pauta é uma conquista imensa. Ela não está completamente refletida em pedestres e em pessoas com deficiência física, mas está iniciando um processo que até então não existia. E o Brasil precisa recuperar as suas cidades.
A mobilidade urbana é hoje pauta de todo político que deseja ganhar o voto jovem. Essa tendência têm se refletido em conquistas?
A bicicleta sem dúvida nenhuma, em seu momento, está sendo usada tanto por interesses políticos quanto por interesses econômicos, sendo que nenhum desses interesses está dando o retorno correto. Eu não sei se isso vai mudar, mas se mudar alguma coisa, é porque esses novos cicloativistas estão refinando cada vez mais a capacidade de pressionar as forças políticas com qualidade. E quem está ligado a essa questão da bicicleta ou de outros transportes não motorizados está cada vez mais consciente de que a luta tem que ser muito além da questão política. Aqui em São Paulo, muitas ações trouxeram resultados por causa disso. Eles entendem como funcionam as coisas, como fazer um projeto ir pra frente numa assembleia, numa câmara de vereadores, quais são os políticos que fazem as coisas andar. Eles entendem que algumas coisas tem que ser resolvidas dentro das secretarias, não necessariamente com o prefeito ou com o secretário. Entender como funciona a coisa pública no Brasil está fazendo com que as coisas avancem. Pouco, é verdade, mas de forma segura.
Arturo Alcorta, membro da União dos Ciclistas do Brasil (UCB), palestrante do 3º Fórum Mundial da Bicicleta nas mesas “Qualidade, Equidade” e “A organização institucional do cicloativismo em nível nacional – realidade, perspectivas e sucessão na UCB”
A semana em Curitiba será sobre duas rodas. Pela primeira vez, a capital recebe o Fórum Mundial da Bicicleta, que em sua terceira edição sai de Porto Alegre e se torna um evento itinerante para levar a discussão sobre mobilidade urbana e cicloativismo para o resto do Brasil. Durante quatro dias – de 13 a 16 de fevereiro – diversas pessoas, entre urbanistas, cicloativistas, artistas e políticos vão promover debates, oficinas e atividades ao ar livre.
Um dos organizadores do evento, Luis Cláudio Brito Patrício diz que a ideia de levar o fórum para outras cidades foi levantada na última edição. “A gente se candidatou porque temos aqui em Curitiba uma cena cicloativista há alguns anos. Tivemos vários voluntários e estamos organizando este evento desde o ano passado”, conta.
Entre os palestrantes estão Uwe Redecker, encarregado dos assuntos cicloviários da cidade de Kiel, na Alemanha, e Lars Gemzoe, urbanista dinamarquês internacionalmente reconhecido por suas ideias em qualidade de vida no espaço público. Segundo Patrício, os debates, entretanto, não são circunscritos ao universo da bicicleta. “Temos discussões sobre urbanismo, saúde, convivência, e a maioria das atividades são autossugestionadas. Algumas pessoas fizeram a inscrição das atividades que queriam desenvolver e nós organizamos uma grade de programação”.
Entre outras atrações não relacionadas ao tema principal estão a artista suíça Mona Caron, que fará intervenções artísticas durante o evento, e a colombiana Olga Sarmiento, que fala sobre as ciclovias em Bogotá como forma de promover a atividade física. Também estão previstos uma mostra de cinema de filmes sobre bicicleta, shows musicais e pedaladas.
A abertura do evento fica por conta de um discurso do prefeito Gustavo Fruet. Infelizmente, segundo os organizadores, a abertura vai ficar só no discurso. “A nossa ideia era de que pelo menos uma das propostas apresentadas pelo prefeito na campanha sobre a mobilidade das bicicletas fosse implementada durante o fórum, até para dar visibilidade, mas pelo visto, não vai ter nada”, conta Patrício.
Ele diz que o esforço agora, em conversas com o Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e com a prefeitura, é para que até o final do ano uma proposta seja implementada.
O Fórum Internacional da Bicicleta começou no dia 25 de fevereiro de 2012, exatamente um ano depois do atropelamento de um coletivo de ciclistas que protestavam em Porto Alegre. O episódio é visto com muita revolta pela comunidade cicloativista, mas também como um catalisador de transformação. “O atropelamento de Porto Alegre, em vez de gerar uma reação agressiva, criou o Fórum Internacional. Então há males que vêm para o bem”.
O acesso às atividades é completamente gratuito, e o site do evento disponibiliza um formulário de inscrição que, segundo a organização, serve mais para controle do Fórum do que garantir a participação dos inscritos. “Tivemos até o momento 650 inscrições, mas a expectativa é de que venham bem mais”, diz o organizador.
Para conhecer mais as atividades e fazer a inscrição no 3º Fórum Internacional da Bicicleta, acesse o site do projeto: http://forummundialdabici.org.

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