sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Uma Viagem em Homenagem a Marco Pantani Revista Bicicleta por JB Carvalho






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Uma Viagem em Homenagem a Marco Pantani

Em 2011 estive na etapa Rainha do Giro d’Italia, no Colle Delle Fenestre. Neste ano, a organização do Giro dedicou três etapas em homenagem a uma década da morte de Marco Pantani, o Pirata. Então, pensei em assistir pessoalmente a principal delas: a 15ª etapa, que foi de Valdengo a Plan di Montecampione, além da última etapa de montanha, ou seja, a Rainha.

Revista Bicicleta por JB Carvalho
13/01/2015
Uma Viagem em Homenagem a Marco Pantani
Foto: JB Carvalho
Pensando neste projeto, conversei com os amigos da Bianchi Brasil, marca da bicicleta com que Pantani competia, e eles apoiaram a ideia e me convidaram a conhecer a fábrica na Itália. Dessa forma, planejei minha viagem e cheguei a Milão, seguindo para Bergamo e já no segundo dia fui até o município vizinho de Treviglio onde está instalada a Bianchi. A indústria tem mais de 100 anos de história e a cor verde celeste é como um título de nobreza entre as magrelas.
Os maiores mitos italianos pedalaram Bianchi, como Fausto Coppi, Felice Gimondi e o “Pirata” Pantani, todos eles donos de vários títulos e o incrível feito de conquistar o Giro d’Italia e o Tour de France no mesmo ano, cada um em sua época.
Marco Pantani nasceu em Cesenatico, 13 de janeiro de 1970, e morreu em Rimini, em 14 de fevereiro de 2004. Pantani foi um dos melhores escaladores de sua geração. O ponto alto de sua carreira foi em 1998, quando venceu o Giro d’Italia e o Tour de France.

Na Bianchi fui muito bem-recebido pelo gerente de marketing, Claudio Masnata, que me mostrou toda a fábrica e constatei que além e toda a tradição, eles estão na vanguarda da tecnologia com um impressionante laboratório de testes e linha de montagem, porém, mantêm alguns detalhes de finalização e acabamento realizados manualmente, seguindo um padrão de qualidade. Também tive a oportunidade de ver duas bikes campeãs, a de Fausto Coppi e a de Marco Pantani, o que foi realmente muito emocionante. Para finalizar esse dia maravilhoso cheio de cultura e emoção, almocei no refeitório junto com os funcionários.
No dia seguinte parti em direção ao Lago d’Iseo, onde acampei às suas margens, na cidade de Pisogne, para no dia seguinte subir a montanha e assistir à 15ª etapa do Giro d’talia, com chegada no Montecampione. Esta etapa foi totalmente dedicada ao Pirata, pois foi lá que, em 1998, Marco Pantani definiu o Giro. Este ano, na mítica montanha, quem passou acelerando e garantindo a vitória da etapa foi Fabio Aru, nova promessa do ciclismo italiano. Também pude ver nessa etapa o simpático Rigoberto Uran vestindo a Maglia Rosa, e seu compatriota Nairo Quintana na perseguição. Após este aquecimento, saí de Pisogne e passei pela cidade de Brescia, lindíssima, com várias ruínas do Império Romano e uma bela praça medieval. De lá segui para o Lago di Garda, onde visitei o Castelo di Sirmione, simplesmente maravilhoso, pena que peguei um pouco de chuva e não pude explorar um pouco mais a região. Sai de lá e fui para o Monte Zoncolan, para a 20ª etapa do Giro, a última etapa de montanha, a “Rainha”. Todas as etapas de montanha sempre têm um “mar de gente” e muita festa, mas a etapa Rainha extrapola essa regra.
A subida para o Zoncolan começa na cidade de Ovaro. Os três primeiros quilômetros são possíveis a qualquer ciclista, após vem cerca de 200 m de plano para, então, chegar ao verdadeiro Zoncolan, passando por um pórtico que diz “La porta dell’inferno”. Após essa marca não tem descanso, é 18 a 22% de inclinação sem nenhum metro de plano. Devo confessar que não fui capaz de subir tudo no pedal, pois com tanta gente era impossível fazer a conhecida cobrinha ou ziguezague. Realmente, o Monte Zoncolan merece a fama de uma das montanhas mais duras da Europa.
Cheguei a Ovaro três dias antes da prova, assim pude assistir à transformação da cidade, com milhares de pessoas chegando e a cidade se enfeitando... Eu fiquei em um camping a 1,5 km da cidade no começo da subida. Quinhentos metros acima, na mesma estrada, em uma grande área verde, alguns motor-homes e campistas chegavam. Lá havia um grupo de doze amigos italianos de idades variadas e uma estrutura de dar inveja: uma barraca grande onde todos dormiam acoplada a um gazebo maior ainda, com gerador elétrico, geladeira repleta de comida e bebida, uma grande televisão para não perder nada e uma churrasqueira dupla. Além disso, os “meninos” ainda tinham um grande aquecedor a gás, pois a noite é fria na montanha.
Nas vésperas das etapas eles mexiam com todo mundo que passava por ali, e não foi diferente comigo. Já que estava lá para a festa, parei e de imediato um deles veio até mim com um copo de vinho e ofereceu-me dizendo que aquela era a coragem para subir o Zoncolan. Fiquei amigo deles, ou melhor, eles me adotaram, pois no dia seguinte já tinha uma caneca com meu nome. Jantei todas as noites com eles. Também assisti as corridas na televisão com eles. Ali ao nosso lado estava o famoso “Didi, o Diabo”, aquele cidadão fantasiado que com seu tridente corre atrás dos ciclistas... Pura festa!
Foi mágico. Estava ali assistindo pela televisão e escutando os helicópteros, quando num piscar de olhos estavam todos ali, passando praticamente no seu pé. Vi Michael Rogers passando para vencer a etapa e alguns segundos atrás o grupo principal, com Nairo Quintana com a camisa de líder, seguido de perto por Rigoberto Uran e Fabio Aru, que confirmaram as posições no final do Giro.
Uma curiosidade observada por quem estava lá, vivenciando tudo ao vivo, foi o apelido que Quintana ganhou na Itália. As pessoas o chamavam de Naironman Quintana, em alusão ao Ironman, ou Homem de Ferro.
No dia seguinte, peguei carona com meus amigos italianos até Treviso. Então, recomecei a pedalar sentido sul, pois agora meu objetivo era chegar a Cesenatico, terra natal de Marco Pantani. No primeiro dia foram cerca de 100 km até chegar em Chioggia, ao sul de Veneza. Para chegar lá, peguei o Tragheto, ou seja, a barca municipal que faz a travessia de Veneza para as ilhas que fecham a baía, Ilha de Lido e Ilha de Pellestrina, um passeio maravilhoso. Ao chegar em Chioggia você logo percebe porque é chamada de “pequena Veneza”. No dia seguinte segui para Camochio, a cidade das três pontes, também mais uma pequena Veneza super charmosa no delta do Rio Pó.
Depois, sempre descendo, passei em Marina di Ravenna e Ravenna. As duas cidades são ligadas com uma ciclovia, segurança total ao ciclista. De lá segui para Cesenatico, e conforme conselhos recebidos, fui pela “Pineta”, um bosque de pinus. No início fiquei meio apreensivo, pois estava com uma bicicleta Speed com pneus 700x25 com mais de 100 libras e com cerca de 20 kg de carga. A chance de ter um furo seria grande. Felizmente, não tive nenhum furo e ainda encontrei um casal de ciclistas italianos. Percorremos a trilha juntos, o que foi muito bom, pois eles conheciam o percurso e sozinho com certeza me perderia. Na cidade de Pantani, conheci o museu do Pirata e depois cruzei a Itália de leste a oeste, realizando a travessia Adriático-Tirreno.
Cesenatico
Toda cicloviagem sempre é rica em aprendizado e emoções e este ano, mais uma vez fazendo um “Bello” giro de bicicleta pela Itália, premiei-me com uma visita à cidade de Cesenatico, na costa Adriática, cidade natal de Marco Pantani ou simplesmente “Pirata”.
É lá que, em um salão vizinho à estação de trens, praticamente o mesmo imóvel, super charmoso, está o museu do Pirata, Fondazione Pantani. São três salas com vasto acervo da trajetória do campeão, desde sua primeira bicicleta de corrida até a última, inclusive a bicicleta com a qual Pantani conquistou o Giro d’Italia e o Tour d’France no mesmo ano em 1998. Aliás, nesta bike uma particularidade, para aliviar peso ao máximo possível, Pantani usava uma alavanca de câmbio diferente da outra, pois a da mão direita que troca as marchas traseiras são alavancas conjugadas ao manete de freio, e no câmbio dianteiro ele usava a alavanca de mudança no quadro, aliviando assim algumas gramas, além de que o Pirata também tinha o costume de trocar as marchas dianteiras com o joelho.
No museu há muita coisa para ver, todas as “maglias” que o campeão vestiu, vasto material de imprensa e audiovisual, realmente emocionante assistir tudo isto, etapas de grandes voltas que marcaram época.
Fiquei dois dias na cidade e tive a chance de, lá no museu, conhecer alguns personagens desta história, como Gigi o “Super Tifoso”, ou seja, o super torcedor, um simpático senhor de 81 anos amicíssimo de família e mentor de Pantani, além de Guerino, o mecânico número um para o Pirata,  e ainda tive a honra de conhecer Paolo Pantani, pai de Marco.
O museu foi inaugurado em 2006 e lá você pode ver também um pouco do trabalho da Fundação Pantani, uma ONG que ajuda no tratamento de crianças necessitadas e ainda promove um curso de ciclismo nas escolas da cidade e arredores, também fomenta o ciclismo apoiando eventos “clássicos” pela região. Este ano, em homenagem ao décimo ano da morte de Marco Pantani, foi inaugurado em uma das principais praças à beira-mar da cidade um monumento ao atleta.
Realmente muito emocionante a visita a Cesenatico e ao museu, e polêmicas à parte, o que se vê é que Marco era um “ragazzo d’oro”, ou seja, um menino de ouro, uma ótima pessoa, querido por todos, e com certeza seu lugar no “hall” dos super campeões é eterno e a bandeira do Pirata sempre tremulará nas etapas de montanha.
A bike da viagem
Nesta viagem, em parceria com os amigos da Bianchi Brasil, pedalei uma Bianchi Impulso, uma “bellissima” Speed, sangue azul, ou melhor, verde celeste. A bike é leve, rápida, maravilhosa e com bike fit realizado na Anderson Bicicletas passei horas agradáveis pedalando. Pelo fato da bicicleta ser uma Speed pró seu quadro não é dotado de furação para bagageiros, portanto, a bike foi equipada com bagageiro Pack’n pedal da Thule, desenvolvido para fixação sem parafusos no quadro, que atendeu totalmente a necessidade.
Agradecimento aos parceiros
Bianchi Brasil – Distribuidora Dádiva
www.dadiva.com.br
Anderson Bicicletas
www.andersonbicicletas.com.br
Thule
www.thule.com

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